quarta-feira, 30 de julho de 2014

A bola de neve de desastres após a goleada da Alemanha

Abatimento evidente perante o show alemão (Laurence Griffiths/Getty Images)
Confesso que comecei um texto sobre a histórica semifinal da Copa do Mundo, a qual a Alemanha venceu o Brasil por 7 a 1. Cerca de 30 minutos depois, Felipão deu entrevista coletiva ainda atordoado. Esperei o dia seguinte. Na Granja Acomary, toda a comissão técnica presente para coletiva. Logo, pensei que seria uma despedida geral, digna pela tradição do Brasil no futebol. Não. Felipão apresentou sua porcentagens de vitórias na Seleção (ótima por conta dos amistosos risíveis pré-Copa), uma planilha com o número de treinos, a quantidade de jogos de Bernard na seleção e se defendeu de acusações. Sem despedidas. Além disso, Pareira leu a carta da Dona Lúcia. Dias depois, no sábado (12), outra goleada, agora para a Holanda na decisão de terceiro lugar, e as mesmas desculpas pós coletivas. Dez dias depois, a coletiva de apresentação do técnico encarregado da renovação do futebol brasileiro, Dunga. Para abranger todos os assuntos em somente um texto, resolvi separá-los em itens:


A goleada de 7 a  1 para a Alemanha: 
Schürrle comemora gol de forma comedida com companheiros Müller e Özil (Foto: Getty Images)
Estudada por Alexandre Gallo e Roque Júnior, a Alemanha mostrou na partida o mesmo futebol dessa Copa do Mundo e da Eurocopa 2012: posse de bola, toques rápidos entre seus três volantes, verticalidade pelas laterais e uma presença de área. Felipão não se preparou e colocou Bernard na missão de substituir Neymar. Luiz Gustavo e Fernandinho ficaram sobrecarregados na marcação de Khedira, Schweinsteiger e Kroos. Além disso, David Luiz foi deslocado para o lado direito da zaga por conta da suspensão do Thiago Silva - infantil, por atrasar a reposição de bola diante o goleiro da Colômbia - e Dante entrou no lado esquerdo. Como disse meu amigo Jhon Tedeschi em seu blog Vida Cancheira: "É como em um jogo de xadrez: um simples movimento pode ser limítrofe entre a glória e o fracasso."

Logo aos dez minutos, Müller abriu o placar em falhas individuais de Marcelo e David Luiz. Depois, a chamada "pane", tão comentada pela comissão técnica: foram 4 gols em 6 minutos (22, 24, 25 e 28). Com o passar do tempo, a Alemanha foi decrescendo gradualmente seu ritmo e marcou somente dois gols no segundo tempo. Oscar ainda descontou nos acréscimos para o Brasil. Individualmente, Maicon foi o único a fazer partida regular, não tendo culpa direta em nenhum gol alemão.

Já Marcelo, David Luiz e Fernandinho tiveram atuações horrorosas, talvez uma das piores em suas carreiras. O restante do time foi ruim tecnicamente, além de contar com a contribuição tática de Felipão. O desastre estava anunciado. Pensando na final, Löw se deu o luxo de poupar Hummels, zagueiro que enfrentou resfriados durante a Copa, para a final. Além disso, para ter o apoio da torcida brasileira em uma final, a Alemanha claramente "tirou o pé" e preferiu não empilhar ainda mais gols, sem contar as comemorações de gol muito comedidas.

A coletiva do pós-jogo e a do dia seguinte: 


Toda comissão técnica reunida para explicar o vexame em coletiva (Foto: Ricardo Stuckert/CBF)
Vendo a coletiva pós-jogo, concluí: Felipão estava atordoado. Até entendo. Dificilmente veremos novamente o Brasil perder de 7 a 1 em uma semifinal de Copa do Mundo. Ainda mais em terras canarinhas. Naquele momento, não havia 30 minutos do fim do jogo. Ele não estaria compreendendo a dimensão da derrota ao resumir a histórica goleada em uma simples "pane".

No dia seguinte, toda a comissão técnica presente, surpreendentemente, para entrevista coletiva na Granja Acomary. A maioria pensou que seria um pedido de demissão coletivo por conta da humilhante derrota. Mas não foi nada disso. Uma reprise - um pouco mais longa, é verdade - da coletiva do dia anterior se apresentou à frente de alguns jornalistas.

Nessa, ao menos, Felipão estava preparado, com argumentos - pífios, é verdade - e evidências. Se defendeu de acusações de que a Seleção Brasileira pouco treinou durante a Copa com uma planilha de todos trabalhos do Brasil. Nela, contava os treinos regenerativos para igualar à Copa das Confederações e eximir sua culpa. E mais, se mostrando incomodado com alguns comentários de jornalistas e torcedores, se deu o trabalho de dar estatísticas do Bernard na Seleção Brasileira. Como diria Caetano Veloso: "Vocês não estão entendendo nada", já que a maioria não indagava a escolha do jogador Bernard, mas sim o porquê de não atuar com três volantes diante uma Alemanha que gosta de ter a posse de bola.

Para finalizar essa histórica coletiva, Carlos Alberto Parreira, aposentado do futebol até antes de assumir a Seleção Brasileira de futebol, interrompeu uma resposta de Felipão para ler uma das "centenas de cartas que (eles da comissão técnica) receberam". Nela, a personagem - fictícia, ao que tudo leva crer - Dona Lúcia diz se orgulhar do trabalho de Felipão, de toda comissão técnica e da Seleção Brasileira. Por trás da carta (ou e-mail), um trabalho do Victor Martins, do Grande Prêmio, faz a parecer uma concepção. No site da CBF não há uma área de contato. No site da FIFA, o acesso é extremamente atribulado. Ainda mais para senhoras de idade, que, imagino eu, deva ser o caso de Dona Lúcia. Além disso, uma pessoa ligada à Fifa disse ao jornalista Victor Martins que é “muito improvável” que esta mensagem tenha ido parar nas mãos da entidade porque as pessoas, de fato, “têm dificuldade” em usar o site.


Derrota preocupante para a Holanda:
A empolgação holandesa com o terceiro lugar garantido (Foto: Buda Mendes/Getty Images)
A decisão de terceiro lugar, diante a Holanda, poderia amenizar o histórico vexame da semifinal. Van Gaal, técnico dos laranjas, disse não ver sentido na decisão de terceiro lugar antes do duelo. Os europeus poderiam estar de ressaca após derrota sofrida diante a Argentina, dias antes antes. Além do mais, jogaram a semifinal um dia depois e atuaram por 30 minutos a mais, por conta da prorrogação, que o Brasil.

Em campo, nada disso se viu. A Holanda, aparentemente de ressaca mesmo, venceu o Brasil com autoridade, sem fazer grandes esforços. Em 15 minutos, já havia marcado dois gols. Um de pênalti, do Van Persie, aos dois minutos, e outro de Daley Blind, após falha pré-mirim do David Luiz. O restante da partida se resumiu no Brasil fazendo um esforço enorme para criar chances de gol e uma Holanda se limitando a defender, pouco interessada em atacar. Nos acréscimos, Wijnaldum fechou a conta, com extrema facilidade.

Individualmente, outra atuação fraquíssima do Brasil. Maicon, Maxwell, Willian e Oscar se sobressaíram mais por não cometerem tantos erros, do que por apresentarem algo novo. Os dois últimos criaram boas tramas juntos, levando em conta a afinidade de Chelsea, mas nenhuma resultou em gol. O 3 a 0 foi humilhante, principalmente pela forma de atuar da Holanda, que se mostrou descompromissada com a partida.

Dunga, o encarregado da revolução:
Gilmar Rinaldi (E) e Dunga (D) na apresentação do novo técnico da Seleção Brasileira (Foto: Rafael Riberio/CBF)
A revolução no futebol brasileiro, ao menos ao que parece, não se dará agora. Digo isso, pois os novos nomes que comandarão o futebol não têm essa característica, tampouco apresentam trabalhos convincentes. Os nomes de Gilmar Rinaldi, novo coordenador geral de Seleções da CBF, e Dunga, técnico do selecionado principal, se destacam.

O primeiro foi o terceiro goleiro do Brasil na conquista da Copa do Mundo de 2014. Depois de encerrar a carreira, trabalhou como superintendente de futebol no Flamengo. Nessa função por dois anos, não deixou boa impressão por conta da ligação com Edmundo Santos Silva, presidente do Flamengo na época. Também foi empresário de diversos jogadores, encerrando suas atividades para assumir a seleção. No caso mais notório, empurrou os distúrbios do craque Adriano, o Imperador, com a barriga, em vez de ajudá-lo com seus problemas particulares.

Já o estilo de Dunga é conhecido de todos, principalmente pela Copa do Mundo de 2010. Ele preza por poucos treinos abertos e folgas, diferentemente do demonstrado pelo selecionado de Felipão na última Copa do Mundo. É formador de grupo e pragmático. Provavelmente não fará a revolução do futebol brasileiro, tão exaltada e debatida. Deve formar um grupo e manter a tal falada coerência até a convocação final, com poucas mudanças se as respostas forem boas em campo.

Dentro de campo, acho aceitável a forma de jogar dos times do Dunga. Sua trajetória na Seleção Brasileira, de 2006 a 2010, mostra bem sua forma de ver futebol. Com aquela equipe, fechava bem a defesa, usava um 4-2-3-1 com a linha de três meias na diagonal, e usava os contra-ataques com os velozes Kaká, Robinho, Luis Fabiano e, por vezes, Ramires. Utilizava também, com ótimo aproveitamento, a bola parada com Elano e Daniel Alves nas cobranças. Contra seleções de boa expressão, fez bons resultados. As atuações da Copa de 2010 foram infinitamente melhores do que as da Copa de 2014. E sim, uma "pane" tirou o Brasil da Copa, por conta de falhas individuais de Júlio César e Felipe Melo, que fazia ótimo torneio, diante a Holanda nas quartas de final. Deixou o cargo com grandes números: em 60 partidas, 42 vitórias, 12 empates e 6 derrotas.

Mesmo apresentando bons números e uma coerência em sua primeira passagem na Seleção Brasileira, a renovação não ocorrerá. As antigas funções de Rinaldi, empresário de vários jogadores até sua apresentação, e Dunga - que teve comprovada, em reportagem do jornalista Lúcio de Castro, ação como agente - levantam dúvidas sobre as futuras convocações. Potencial há para formar uma boa seleção.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Lesão de Neymar e suas consequências

Zúñiga e Neymar em disputa de bola que gerou a lesão (Foto: AFP)
Em disputa de bola com lateral Zúñiga, o craque Neymar acabou fraturando a terceira vértebra lombar e viu seu sonho de ser campeão de uma Copa do Mundo, jogando em casa, acabar, já que não poderá mais atuar nesse Mundial. Incentivados por muitos jornalistas e personalidades da mídia, o lateral colombiano vem sofrendo ofensas racistas, além de agressões morais aos seus familiares e inúmeras ameaças nas redes sociais.

Sobre o lance, que resultou na lesão, e as chances do Brasil na competição, alguns pitacos a seguir:

1) O árbitro é tão - ou mais - culpado quanto Zúñiga

Não há motivos para transformar Iván Zúñiga, lateral colombiano que atua no Napoli-ITA, em vilão no Brasil. Desde o primeiro minuto de jogo, Carlos Velasco, árbitro espanhol de 43 anos, foi conivente com a violência vista em campo. O resultado foram 54 faltas marcadas, nas quais 31 cometidas pelo Brasil, e apenas quatro cartões amarelos. Dois deles para o Brasil (Julio Cesar e Thiago Silva) e dois para a Colômbia (Yepes e James Rodríguez).

O lateral foi atabalhoado para a bola, já que a Colômbia estava perdendo por 2 a 1 e eram jogados 40 minutos do 2º tempo. A joelhada que acabou tirando Neymar na Copa não está inserida em um contexto de firulas e gozações de Neymar. Zúñiga, que nunca foi um jogador violento (tanto que recebeu 57 cartões a menos que Neymar nos últimos 5 anos), foi imprudente.

Diminuiriam as chances de Zúñiga entrar daquela maneira no lance com Neymar se, ainda no primeiro tempo, tivesse recebido um cartão amarelo por uma entrada forte no joelho do Hulk. Assim como Thiago Silva não iria atrapalhar a saída de bola no goleiro Ospina se tivesse recebido cartão pelas inúmeras - e fortes - faltas durante o jogo. A sugestão da FIFA, direcionado aos árbitros para que eles mostrem poucos cartões durante o jogo, deve saber ser utilizada. Velasco deixou o jogo fraco, cheio de faltas e foi omisso, logo conivente com a lesão.


Comentários chulos de brasileiros em foto da filha de Zúñiga (Reprodução / Instagram)

A mãe de Zúñiga também foi ofendida (Reprodução / Instagram)
2) Mais leve, há chances de vencer a Alemanha

A lesão de Neymar deve tirar um pouco do peso das costas dos jogadores do Brasil. A pressão pra o título, sem Neymar, não é a mesma. O "Barbosa de 2014", expressão criada pelo comentarista Rubem Leão, da Rádio Tupi (RJ), foi eleito. Se o Brasil for eliminado diante a Alemanha ou perder a final diante Argentina ou Holanda, Zúñiga será - injustamente - o culpado pela opinião pública graças a endemonização exercida sobre o jogador.

Mais leve, os valores de Willian e Bernard podem aparecer. Hulk e Oscar podem se tornar protagonistas. O primeiro, aliás, vem crescendo demais nos últimos jogos, justamente quando Neymar não foi bem. Luiz Gustavo é sempre regular, Fernandinho entrou bem e Paulinho fez bom jogo diante a Colômbia. Sem Thiago Silva, David Luiz pode assumir a liderança da defesa e dar segurança ao seu companheiro: Dante (conhecedor dos alemães e bom zagueiro) e Henrique.

A Argélia não tinha Neymar e Thiago Silva e foi perder de 2 a 1 para a Alemanha na prorrogação. Gana empatou em 2 a 2, com chances de vitória. Além disso, Löw tem escolhas duvidosas. Boateng, Müstafi e Höwedes, zagueiros de origem, são improvisados nas laterais e não tem boas atuações por aquele setor. Por ali, o substituto de Neymar, Oscar e Hulk podem levar vantagem. Nenhuma das seleções restantes demonstrou ótimo futebol nessa Copa do Mundo. Diante a Colômbia, Neymar teve atuação ruim e, mesmo assim, o Brasil conseguiu vencer e passar de fase. E por quê não dizer que a Seleção Brasileira, sem tanta pressão, pode ainda erguer a a taça?