Abatimento evidente perante o show alemão (Laurence Griffiths/Getty Images) |
A goleada de 7 a 1 para a Alemanha:
Schürrle comemora gol de forma comedida com companheiros Müller e Özil (Foto: Getty Images) |
Logo aos dez minutos, Müller abriu o placar em falhas individuais de Marcelo e David Luiz. Depois, a chamada "pane", tão comentada pela comissão técnica: foram 4 gols em 6 minutos (22, 24, 25 e 28). Com o passar do tempo, a Alemanha foi decrescendo gradualmente seu ritmo e marcou somente dois gols no segundo tempo. Oscar ainda descontou nos acréscimos para o Brasil. Individualmente, Maicon foi o único a fazer partida regular, não tendo culpa direta em nenhum gol alemão.
Já Marcelo, David Luiz e Fernandinho tiveram atuações horrorosas, talvez uma das piores em suas carreiras. O restante do time foi ruim tecnicamente, além de contar com a contribuição tática de Felipão. O desastre estava anunciado. Pensando na final, Löw se deu o luxo de poupar Hummels, zagueiro que enfrentou resfriados durante a Copa, para a final. Além disso, para ter o apoio da torcida brasileira em uma final, a Alemanha claramente "tirou o pé" e preferiu não empilhar ainda mais gols, sem contar as comemorações de gol muito comedidas.
A coletiva do pós-jogo e a do dia seguinte:
Vendo a coletiva pós-jogo, concluí: Felipão estava atordoado. Até entendo. Dificilmente veremos novamente o Brasil perder de 7 a 1 em uma semifinal de Copa do Mundo. Ainda mais em terras canarinhas. Naquele momento, não havia 30 minutos do fim do jogo. Ele não estaria compreendendo a dimensão da derrota ao resumir a histórica goleada em uma simples "pane".
Toda comissão técnica reunida para explicar o vexame em coletiva (Foto: Ricardo Stuckert/CBF) |
No dia seguinte, toda a comissão técnica presente, surpreendentemente, para entrevista coletiva na Granja Acomary. A maioria pensou que seria um pedido de demissão coletivo por conta da humilhante derrota. Mas não foi nada disso. Uma reprise - um pouco mais longa, é verdade - da coletiva do dia anterior se apresentou à frente de alguns jornalistas.
Nessa, ao menos, Felipão estava preparado, com argumentos - pífios, é verdade - e evidências. Se defendeu de acusações de que a Seleção Brasileira pouco treinou durante a Copa com uma planilha de todos trabalhos do Brasil. Nela, contava os treinos regenerativos para igualar à Copa das Confederações e eximir sua culpa. E mais, se mostrando incomodado com alguns comentários de jornalistas e torcedores, se deu o trabalho de dar estatísticas do Bernard na Seleção Brasileira. Como diria Caetano Veloso: "Vocês não estão entendendo nada", já que a maioria não indagava a escolha do jogador Bernard, mas sim o porquê de não atuar com três volantes diante uma Alemanha que gosta de ter a posse de bola.
Para finalizar essa histórica coletiva, Carlos Alberto Parreira, aposentado do futebol até antes de assumir a Seleção Brasileira de futebol, interrompeu uma resposta de Felipão para ler uma das "centenas de cartas que (eles da comissão técnica) receberam". Nela, a personagem - fictícia, ao que tudo leva crer - Dona Lúcia diz se orgulhar do trabalho de Felipão, de toda comissão técnica e da Seleção Brasileira. Por trás da carta (ou e-mail), um trabalho do Victor Martins, do Grande Prêmio, faz a parecer uma concepção. No site da CBF não há uma área de contato. No site da FIFA, o acesso é extremamente atribulado. Ainda mais para senhoras de idade, que, imagino eu, deva ser o caso de Dona Lúcia. Além disso, uma pessoa ligada à Fifa disse ao jornalista Victor Martins que é “muito improvável” que esta mensagem tenha ido parar nas mãos da entidade porque as pessoas, de fato, “têm dificuldade” em usar o site.
Derrota preocupante para a Holanda:
A empolgação holandesa com o terceiro lugar garantido (Foto: Buda Mendes/Getty Images) |
Em campo, nada disso se viu. A Holanda, aparentemente de ressaca mesmo, venceu o Brasil com autoridade, sem fazer grandes esforços. Em 15 minutos, já havia marcado dois gols. Um de pênalti, do Van Persie, aos dois minutos, e outro de Daley Blind, após falha pré-mirim do David Luiz. O restante da partida se resumiu no Brasil fazendo um esforço enorme para criar chances de gol e uma Holanda se limitando a defender, pouco interessada em atacar. Nos acréscimos, Wijnaldum fechou a conta, com extrema facilidade.
Individualmente, outra atuação fraquíssima do Brasil. Maicon, Maxwell, Willian e Oscar se sobressaíram mais por não cometerem tantos erros, do que por apresentarem algo novo. Os dois últimos criaram boas tramas juntos, levando em conta a afinidade de Chelsea, mas nenhuma resultou em gol. O 3 a 0 foi humilhante, principalmente pela forma de atuar da Holanda, que se mostrou descompromissada com a partida.
Dunga, o encarregado da revolução:
Gilmar Rinaldi (E) e Dunga (D) na apresentação do novo técnico da Seleção Brasileira (Foto: Rafael Riberio/CBF) |
O primeiro foi o terceiro goleiro do Brasil na conquista da Copa do Mundo de 2014. Depois de encerrar a carreira, trabalhou como superintendente de futebol no Flamengo. Nessa função por dois anos, não deixou boa impressão por conta da ligação com Edmundo Santos Silva, presidente do Flamengo na época. Também foi empresário de diversos jogadores, encerrando suas atividades para assumir a seleção. No caso mais notório, empurrou os distúrbios do craque Adriano, o Imperador, com a barriga, em vez de ajudá-lo com seus problemas particulares.
Já o estilo de Dunga é conhecido de todos, principalmente pela Copa do Mundo de 2010. Ele preza por poucos treinos abertos e folgas, diferentemente do demonstrado pelo selecionado de Felipão na última Copa do Mundo. É formador de grupo e pragmático. Provavelmente não fará a revolução do futebol brasileiro, tão exaltada e debatida. Deve formar um grupo e manter a tal falada coerência até a convocação final, com poucas mudanças se as respostas forem boas em campo.
Dentro de campo, acho aceitável a forma de jogar dos times do Dunga. Sua trajetória na Seleção Brasileira, de 2006 a 2010, mostra bem sua forma de ver futebol. Com aquela equipe, fechava bem a defesa, usava um 4-2-3-1 com a linha de três meias na diagonal, e usava os contra-ataques com os velozes Kaká, Robinho, Luis Fabiano e, por vezes, Ramires. Utilizava também, com ótimo aproveitamento, a bola parada com Elano e Daniel Alves nas cobranças. Contra seleções de boa expressão, fez bons resultados. As atuações da Copa de 2010 foram infinitamente melhores do que as da Copa de 2014. E sim, uma "pane" tirou o Brasil da Copa, por conta de falhas individuais de Júlio César e Felipe Melo, que fazia ótimo torneio, diante a Holanda nas quartas de final. Deixou o cargo com grandes números: em 60 partidas, 42 vitórias, 12 empates e 6 derrotas.
Mesmo apresentando bons números e uma coerência em sua primeira passagem na Seleção Brasileira, a renovação não ocorrerá. As antigas funções de Rinaldi, empresário de vários jogadores até sua apresentação, e Dunga - que teve comprovada, em reportagem do jornalista Lúcio de Castro, ação como agente - levantam dúvidas sobre as futuras convocações. Potencial há para formar uma boa seleção.